Os Nomes africanos
2003-08-06
Na sua habitual crónica quinzenal na secção intitulada «Epístolas do Ocidente», do Jornal Angolense, edição de 19 de Julho de 2003, Sousa Jamba, escritor, teceu considerações sobre "Os Nomes Africanos".
Sousa Jamba começa a sua crónica dizendo que a sua filha que nasceu na América chama-se Simbovala Etosi Kanga Jamba, um nome invulgar nos grandes centros urbanos. Para Jamba muitos angolanos que encontrou em Luanda e no Planalto Central nas três semanas que permaneceu em Angola estariam agora a rir-se e a dizer: «porque dar a uma criança um nome tão pesado e feio? Porque não deste a tua filha nomes como Vanessa, Hilary, ou CrystalRose? Os colegas vão zombar dela!» "Felizmente a Vala, como lhe chamamos em casa, nunca irá queixar-se das suas colegas porque ela nasceu no Estados Unidos e lá, ao contrário do que notei em Angola, os nomes africanos sim, mesmo nomes em umbundu são valorizados. Em geral a ideia de um certo
multiculturalismo, ou mosaico cultural, está completamente enraizado nos Estados Unidos. Observei que na escola ou até mesmo, na creche, onde temos deixado a nossa filha, há meninas negras oriundas de várias partes de África com nomes africanos como: Nande, Aisha, Shola, Nana; Nyota, Keisha, etc. Muitos negros americanos, por exemplo, prezam os nomes africanos. Nas livrarias e bibliotecas, há manuais especiais para famílias negras que pretendem atribuir um nome africano aos seus filhos", escreveu. Sousa Jamba fala do nascimento de sua filha Vala, e informa que "a médica que lhe prestou os primeiros cuidados, de origem polaca, tinha um espaço de crónica semanal no jornal principal de Jacksonville, o Times Union.Numa das suas crónicas, ela escreveu que achava o nome Simbovala tão encantador, depois de eu lhe ter explicado o seu significado. Simbovala vem de um provérbio umbundu: simbovala ovimpembe, kalunga okuvala omuenyo « (Não fiques obcecado com as lavras que já não rendem, porque Deus cuidará da tua vida» ou «nunca te esqueças do teu lado espiritual)». A médica americana lamentou o facto de muitos nomes anglo-saxónicos terem perdido o seu significado". "A irmã que segue a Simbovala chama-se Kanga que em kikongo, a língua do pai da mãe das filhas, significa algo que une, aproxima... Em Luanda, Huambo e Katchiungo muitos disseram-me que eu devia ter dado outros nomes pelos menos, em português às minhas filhas. Encontrei mesmo gente que quase sentem pena de mim (acham-me tão rústico por ter dado nomes angolanos às minhas filhas) e das meninas (que passarão o resto das suas vidas com tais nomes). Pelo menos os angolanos passaram a dar aos seus filhos nomes brasileiros e não, como é o caso noutros países, nomes de tractores como Catterpillar. Em países anglófonos Zâmbia, Quénia, o Botswana, etc. há tradições como as de atribuir-se às crianças um nome de infância frequentemente, um nome que tenha a ver com as suas origens (Chanda, Kamau, Itumeleng, por exemplo) é um nome de adulto geralmente Europeu. É aqui onde as coisas completamente tornam-se absurdas, porque os nomes que escolhem têm mais a ver com vedetas americanas e europeias.
Na Zâmbia, é possível encontrar um Nixon Mukandawire ou Reagan Bwalya ou mesmo Bronson Shona. No Botswana, há o hábito de dar nomes com significados sonantes e traduzidos literalmente para o inglês. Por isso é que há gente com nomes de Goodman, oh Good Not Another Boy (Oh deus porque um outro rapaz), Gift, Perfect, etc. em certos grupos étnicos por exemplo, os Lamba ou os Tumbukas da Zâmbia há bebés com nomes absurdos como Cabbage (repolho), Spon (colher) e, em muitos casos, bebés com nomes de marcas de carro Landcruiser, Gearbox, etc". "O menosprezo a que os nomes africanos são votados está ligado a um aspecto que me impressionou bastante durante as minhas viagens pelo continente, o desprezo por tudo o que seja africano. A única excepção são os da África Ocidental, os nigerianos, mesmo os da classe mais alta (que são multimilionários) nunca menosprezaram os seus nomes de origem. Os nigerianos orgulham-se de nomes como Bola, Adebayo, Adewale, etc. e mesmo quando eles fazem filhos com outras nacionalidades, eles, insistem que o filho deve levar um nome yoruba, igbo, hausa, etc. Em matéria de nomes, os nigerianos não fazem compromissos. Para eles, um africano tem de ter um nome tradicional", assegurou. "No mundo, há muita gente que concorda com esta asserção. Quando os ingleses, brasileiros ou mesmo russos vêem um angolano «sobrecarregado» com nomes oriundos das suas terras eles riem-se de nós.
O escritor português, Pedro Rosa Mendes, descreve no seu livro Baía dos Tigres, uma viagem que efectuou pela África Central, nos anos 90, um episódio que ficou marcado na minha memória. Um angolano deu nome de Aristóteles ao seu filho mas tinha dificuldades em pronunciar o mesmo. Consciente das potencialidades cómicas de tal incidente, o escritor faz várias referências ao pobre angolano que mal sabia pronunciar o nome do seu próprio filho. Se o filho fosse Sakwanda, Kokelo, Chisola, Epandi, isto é, se vivesse, como as minhas filhas, na América, talvez isso não acontecesse",
concluiu.Simone dos Santos Palmeira Cassoma
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"A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos."
Um comentário:
Meu filho tem 1 ano e meio. Quando estava grávida e falava com algumas pessoas o nome que gostaria de dar, elas me criticavam muito. O nome escolhido era Jhamal. Mas, ao pesquisar mais sobre origem e significado do nome,( pois, sim, teria que ser um nome com significado), não atendia meus anseios de retorno à África. Ele era muito muculmano pra uma família de dentro do candomblé como a minha. Eu sou de nação Ketu e meu ex-marido é Angola. São nações de Candomblés muito distintas, mas aprazíveis. Daí, apareceu na minha frente a história de N'Zinga e com ela o nome com qual registrei meu filho: Kiluange. Ainda não confirmamos o significado e conto com a ajuda do site para isso. Mas, o meu Kiluange, está lindo, forte e aprendendo a falar o seu nome com a mesma dificuldade que falaria o nome da minha mãe: Nazaré.
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